“É Tempo de Retomada” é o tema do Boi Caprichoso na busca pelo tetracampeonato do Festival de Parintins

Carlos Alexandre – Festival de Parintins

Parintins (AM) – O Boi-Bumbá Caprichoso anunciou seu novo tema, “É Tempo de Retomada”, marcando sua jornada em busca do tetracampeonato no Festival de Parintins 2025. O anúncio ocorreu durante as comemorações dos 111 anos do bumbá, na noite deste sábado (13/10), no Curral Zeca Xibelão.

“O tema escolhido é um manifesto da cultura popular em prol da vida no planeta. É um chamado para resgatar práticas antigas e curativas que garantam a continuidade da humanidade”, explicou o presidente do Conselho de Arte, Ericky Nakanome.

Arte do tema

A arte do tema apresenta uma mulher indígena grávida de uma criança, simbolizando o renascimento. A serpente em grafismos representa a renovação contínua.

A concepção artística é assinada pelo indígena Adolfo Tapaiüna, 21 anos, estudante de Tecnologia em Design Digital na UEA (Universidade do Estado do Amazonas) em Parintins. A bisneta de Roque Cid, Ananda Cid, 30 anos, e o finalista do curso de Artes Visuais da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), Denner Silva, 30 anos, também desenvolveu para a criação, unindo tradição e inovação à proposta artística do bumbá, que busca defensora da Amazônia através de sua arte e cultura.

“Essas três pessoas representam a marca, o sentimento e a força do nosso tema. Não seríamos nós a protagonizar essa visualidade, mas sim um tripé baseado em arte, tradição e ancestralidade”, afirmou Nakanome.

Pela primeira vez na história do Festival de Parintins, um indígena assina a identidade visual de um bumbá. Tapaiüna, que trabalha com grafismos desde os 12 anos, aprendeu com a mãe a arte do artesanato e é responsável pelas pinturas corporais da cunhã-poranga Marciele Albuquerque. Ele participou da criação e execução da arte que ilustra o conceito do Caprichoso para a temporada 2025.

“Quando o Caprichoso traz um indígena para criar a arte do tema, ele confirma a visão indígena de arte como algo mais profundo, que vai além do manual. Enxergamos a arte através da espiritualidade, do toque, da sensibilidade e do amor à terra,” comentou emocionado Tapaiuna.

A ancestralidade é uma técnica moderna de ilustração digital. A parintinense Ananda Cid, representante da família fundadora do Boi Caprichoso, trabalhou nas cores da marca. Como colorista, ela trouxe um toque contemporâneo ao conceito proposto pelo tema.

Denner Silva, finalista do curso de Artes Visuais e membro do Caprichoso desde 2016, ficou responsável pelas ilustrações. “Foi um grande desafio e responsabilidade. Estou muito feliz e gratificado por fazer parte desse trabalho”, disse Silva.

Ananda Cid também expressou sua surpresa e honra ao ser convidada pelo presidente do Conselho de Arte. “Além de ser de uma família tradicional, é uma honra para mim contribuir com a marca do Caprichoso para 2025. Não apenas como torcedora, mas também como parte da construção dessa história”, declarou emocionado.

Sinopse do tema

É TEMPO DE RETOMADA!

É tempo de retomada! Nossa Mãe Terra exaurida, esgotada e explorada avisa dos seus últimos suspiros. Até mesmo os mais negacionistas climáticos já começam a se entender como parte dela.

Nossos ancestrais indígenas de todas as partes do mundo, africanos e gente de tantas etnias nos deixaram o imensurável legado de cuidá-la, amá-la e protegê-la como a nossa própria vida. Em nome do progresso, embevecidos por um sistema que a cada dia se mostra falho e estonteado pelas tantas ilusões e pseudonecessidades, ignoramos por muito tempo a exaustão do nosso próprio futuro.

Mas, a floresta ainda está de pé! Homens e mulheres a guardam e até sucumbem entregando suas próprias vidas para proteger a vida de todos nós. Ainda há tempo de um último grito pela preservação, pois é tempo de retomada.

Tempo de retomar os saberes ancestrais que não violam as florestas, águas e ar, que não envenenam nossas crianças, o útero de nossas mulheres e o ar que respiramos, que guardam acura para o corpo, para o mundo e para o espírito.

É retomar a sabedoria banto, nagô, hauçás e yorubá: fazer do peito partir a sankofa num voo da Amazônia para o mundo.

É tempo da retomada, dos espíritos que junto com as águas esvaíram-se dos furos, lagos e igarapés. Espíritos sufocados com a fumaça, escondendo-se de baixo das pedras e dos troncos que apodrecem nas ribanceiras, da cobra grande encolhida para não revelar os segredos das gentes do fundo.

É tempo de retomar tradições que afagam, em meio a tantos sofrimentos, a alma de nosso povo, brincadeiras, o batucar da toada, a dança ritmada dos nossos brincantes ao redor da fogueira e o trotar dos cavalinhos de pano ao redor do nosso amado Caprichoso.

É retomada de gente de todas as cores: indígenas, negros, quilombolas, mulheres, crianças, LGBTQIAPN+ ao poder político em todo mundo.

É a retomada da arte para os braços do povo que na cultura do Boi-Bumbá se ergue como uma bandeira de autoproclamação.

É a retomada da Amazônia floresta, da vida, da esperança e do amor. A retomada é filha da luta, corajosa e esperançosa, de um Boi Negro que ilumina seu povo com a estrela da esperança liberta em cantos, versos, danças, visualidades e encantamentos – portentosa arte popular!

Como nos ensina a originária Trudruá Makuxi, “Trata-se sempre de nós. De como reconstruímos relações fraternas e afetivas. De como somos mais fortes em rede. Retomada é um paradigma de poesia”.

É Parintins, é o Boi-Bumbá Caprichoso!

É tempo de retomada!

Com informações da assessoria de imprensa.